São João: sociabilidade, economia e poder
Leia a coluna de hoje

O nosso São João é uma poderosa celebração de pertencimento, que representa o reencontro simbólico de milhares de pessoas com o território, as raízes e as memórias familiares que formam a identidade socioterritorial. Para além da dimensão simbólica, as festas juninas conformam-se em uma densidade econômica e política gigantesca.
O retorno às origens é acompanhado de um fenômeno econômico expressivo, uma “máquina” de investimentos públicos em atrações, decoração e infraestrutura em torno de uma ampla cadeia produtiva que interliga quase todos os municípios baianos em torno da circulação econômica forte em setores como hospedagem, transporte, alimentação, comércio e serviços, configurando um crescimento significativo durante o ciclo junino de fartura na mesa e na renda dos baianos.
Os dados disponíveis do Painel de Festejos Juninos (MP-BA) ilustram bem esta dinâmica. Municípios como Cruz das Almas, Jequié, Irecê e Santo Antônio de Jesus lideram os investimentos em contratações artísticas. Em Cruz das Almas, por exemplo, foram destinados R$ 9,5 milhões para cachês de artistas, sendo um valor expressivo, mas se considerarmos como hipótese que a cidade pode receber potencialmente cerca de 30 mil turistas durante o período junino, com um gasto médio de R$ 600 por pessoa, a circulação econômica gerada pode chegar no mínimo a R$ 18 milhões, praticamente o dobro do valor investido em atrações.
Este quadro se aplica a dezenas de municípios baianos que durante o mês de junho transformam suas praças em grandes arenas de cultura, sociabilidade e geração de renda. Ou seja, revelam um dado essencial: os recursos destinados às festas juninas democratizam o acesso à cultura e potencializam a economia local como uma política pública mais linear na vida dos municípios, talvez sendo a maior política pública de turismo regional do Brasil.
Além disso, o São João se tornou uma arena política que transcende o campo da cultura, sendo um palco de construção simbólica e efetiva do poder. Em toda a região Nordeste prefeitos, governadores e lideranças políticas utilizam o período para reforçar sua presença pública, prestar contas à população e afirmar compromisso com interesses e agendas sensíveis a diversos segmentos da sociedade civil. Não é à toa que, durante os festejos, as autoridades circulam intensamente, dialogam com as bases, ouvem demandas e alinham acordos políticos de olho nas eleições.
No final das contas, celebrar o São João é reafirmar o orgulho do território, fortalecer os vínculos comunitários e, sobretudo, ativar um ciclo de sociabilidade, economia e poder. O São João precisa ocupar cada vez mais uma agenda nacional como política pública de turismo e economia criativa.